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Mostrando postagens de julho, 2014

As Flores do Ofício.

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Há tempos que não sei o que é a sala de aula. Mas meu serviço às vezes me permite ir até à escola, por outros motivos, é claro.   Entro, correndo , estressada, nada parece dar certo .  Entro na escola totalmente cega, anulada para o dia.   E aí, quando menos espero , sou surpreendida um grito que vibrava um " eeeeeeei professoraaaaa ! ! "  Logo em seguida, um abraço , com tanta verdade que perdi o tino.   Era uma  menina de olhos tão vivos  e cabelo tão cacheadinho. Há três anos atrás , os olhos eram de expectativa e medo  .   Devia ter lá seus 10, 11 anos, primeira vez no " colégio" . Mal sabia ela que a professora,   também estava  perdida dentro de si, aprendendo ainda a ser gente na vida.  Hoje , ela já está crescida .  Hoje, continuo a ver naqueles olhos a mesma doçura de outrora.   Nos meus, só  uma imensa gratidão .  À ela, porque salvou o meu dia .    À vida, porque sou professora .

Insone

Noite enorme, enorme  . Tudo dorme, menos eu.   Tv. Livro. No fim, só café mesmo e teu nome insone madrugada afora..  Teu nome que não some.  Teu nome que ressoa na memória.Lembrança  amargamente doce e tão física.  Cruel. Na madrugada nada me escapa. Silêncio interrompido pelo ranger de alguns portões, vozes alcoólicas  numa noite em coma.  A clareza das coisas me  ensurdecem . Nada é tão real quanto a falta de sono.  Livros dispersos na cama. Roupas pelo chão do quarto.   E eu,  espectro transparente do que me foge. Eu, vendo a vida de fora  enquanto sou puro fantasma.  Vagueio só por minhas cidades, por minhas ruas tão bifurcadas . Enquanto o  café  esfria, o passado, visita indesejada, bate à porta, insistindo em reavivar tudo o que dolorosamente já havia deixado para trás..  Tormenta. Não adormeço .  É muito implorar por companhia e calma?  Quero tanto afastar o medo .   Quero tanto ser feliz que dói. . . . Amanhece . E minha insônia não resiste à ma

Voa de tão leve ...

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(...) Eu lhe procuro, como quem procura um pouco de sombra onde se abrigar. E nessa sombra, eu quero aprender a minha filosofia de vida, a ser mais simples, mais humilde, mais natural e mais contente. Quer, pois, você, minha querida, ser a professora de alegria e de contentamento e de paz, para a minha vida? Não queiramos julgar que tudo isso seja sonho e fantasia. Por que há de ser? As coisas melhores que pude construir até hoje foram as minhas amizades. O nosso amor há de ser qualquer coisa de maior e de melhor. Ajude-me, pois a construí-lo. Com o seu auxílio, ele há de ser tão alto, tão sólido, tão humano e tão bom que irá para além do nosso sonho. Adeus. Saudades e saudades e saudades. Escreva-me muito.  Todo seu Anísio TEIXEIRA, Anísio. Carta a Emília Ferreira Teixeira, Bahia, 31 jul. 1930. Localização do documento: Fundação Getúlio Vargas/CPDOC - Arquivo Anísio Teixeira - ATc 30.06.22.

Leve, poético, Anísio!

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(...) Que pequena confiança, minha querida Emilinha, tenho eu nessa sabedoria. Prefiro a minha, que me diz que seria infinitamente melhor que estivéssemos juntos. E que você pudesse já começar a me ajudar a reconciliar-me com a vida. Custo tanto a andar sozinho. São encontradas aqui, conflitos acolá, erros além, toda uma caminhada incerta, em que a gente não sabe bem para onde vai, nem porque vai... Você com a sua boa alma simples há de me ajudar nessas incertezas. Eu não sei bem tudo que espero de você. Sei apenas que um impulso cego e instintivo me arrasta para você. Sei que por essa inclinação estou disposto a sacrificar o que, há bem pouco tempo, era tudo que eu mais queria no mundo: o meu orgulho, a minha independência, a minha liberdade de viver sozinho. É muito, pois, o que espero de você  (...) TEIXEIRA, Anísio. Carta a Emília Ferreira Teixeira, Bahia, 31 jul. 1930. Localização do documento: Fundação Getúlio Vargas/CPDOC - Arquivo Anísio Teixeira - AT

De Anísio

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Querida: De propósito lhe escrevo neste papel transparente e leve. Vou, daqui a pouco, mandá-lo pelos ares para você. Quero-o assim leve, ligeiro para dar-me a impressão de que é um pouco de asa, um pouco de espírito, um pouco de coração que lhe mando nesta tarde, em que estou tão fatigado e o ar, o céu, tudo está tão doce, que a minha saudade parece que se diluiu em uma vaga incerta de tristeza. TEIXEIRA, Anísio. Carta a Emília Ferreira Teixeira, Bahia, 31 jul. 1930. Localização do documento: Fundação Getúlio Vargas/CPDOC - Arquivo Anísio Teixeira - ATc 30.06.22.

Das letras -e - bola

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"Ora, a sorte! A Copa  do Mundo de 82 acabou para nós,  mas o mundo não acabou.  Nem o Brasil, com suas dores e bens.  E há um lindo sol lá fora, o sol de nós todos." Drummond    A literatura  é tecida com os fios da vida.  E o que mais representa a vida do que um jogo de futebol? Enfrentamentos.   Pancadas.   Coletividade.  Disputa. Rivalidade.  Tempo que urge. Tempo que demora a passar.   Erros e  acertos.   azar . sorte.   Paixão.    E não é que é imprevisível como  a tal vida? Vida que é também regada à fortes emoções  que  geralmente  fazem o coração apertadinho... Que outras vezes, alargam o sorriso de contentamento e euforia! Futebol, assim como  a Literatura  ensina -nos a passar pelas intempéries dos dias , nos põe humanos diante do prazer que é ganhar - um jogo, um amor ou nós mesmos.  Ensina também a perder - é o lembrete que firma os pés no chão,  alerta ao ouvido ' olha, você é feito de carne, osso, coração'. perder ens

De mim..

Daquele dia nada soou com tanta verdade. Somente nós em um momento íntimo de encontro . Eu não pertenço. Alguém pertence, afinal? Talvez as pessoas estejam absortas demais para se perguntarem. Eu nunca fui de lugar nenhum. Não tenho parte no mundo.Não tenho ídolos. Não me vejo em nenhuma pessoa . Não queria ser ninguém além de mim mesma.Não conheço quem entenda o que eu quero dizer. Não conheço ninguém disposto. Ninguém entende o meu tempo.Ninguém sabe dos meus segredos.Ninguém sabe de mim. Eu não pertenço . É definitivo. ( Do Blog " E agora, Maria? " )