Intervalo (amor) oso
O que fazer entre um orgasmo e outro, quando se abre um intervalo sem teu corpo? Onde estou, quando não estou no teu gozo incluído? Sou todo exílio? Que imperfeita forma de ser é essa quando de ti sou apartado? Que neutra forma toco quando não toco teus seios, coxas e não recolho o sopro da vida de tua boca? O que fazer entre um poema e outro olhando a cama, a folha fria? É como se entre um dia e outro houvesse o vago-dia, cinza, vida igual a morte, amortecida. O poema, avulso gesto de amor, é vão recobrimento de espaços. O poema é dúbia forma de enlace, substitui o pênis pelo lápis - e é lapso. Affonso Romano de Sant'anna.