Trouxe o Sol à poesia, mas como trazê-lo ao dia? No papel mineral qualquer geometria fecunda a pura flora que o pensamento cria Mas à floresta de gestos que nos povoa o dia, esse sol de palavra é natureza fria Ora, no rosto que, grave, riso súbito abria, no andar decidido que os longes media, na calma segurança de quem tudo sabia, no contato das coisas que apenas coisas via, nova espécie de sol eu, sem contar, descobria: não a claridade imóvel da praia ao meio-dia, de aérea arquitetura ou de pura poesia: mas o oculto calor que as coisas todas cria. [João Cabral de Melo Neto]