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Mostrando postagens de junho, 2012
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Tenho sua filosofia no que tange viver a antítese dos conceitos "estereotipados" pela humanidade... parecer ter tudo e sentir não ter nada, ou parecer não ter nada, tendo tudo!! Digo "parecer", pois possuir pra mim é inerente à idéia própria e não à matéria ou status... Estar em meio a uma multidão e devorado pelo vazio da solidão ... falar sem mesmo dizer: isso não me refiro a observar  gestos e olhares, mas ler o sentimento pela ausência de palavras...isso é um dom bonito...parafraseando a semântica, é como enxergar o interior de um amigo pela imagem do silêncio. Escutar sem ouvir ,ora é dádiva, ora ignorância...a harmonia vem da medida da conveniência...mas em qualquer caso exemplifica mais uma vez que "ser" por uma declaração exterior é o mínimo ante o que proclama o interior: a inteligência pertence muitas vezes ao desprovido de ciência... os verdadeiros príncipes carregam em si o semblante da humildade que lhes credita o título, e são rico

Tr-ama

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"Um monte de pó formou-se no fundo da prateleira, por detrás da fila de livros. Os meu olhos não o vêem. É uma teia de aranha ao meu tacto. É uma parte ínfima da trama a que chamamos história universal ou processo cósmico. É parte da trama que abarca estrelas, agonias, migrações, navegações, luas, pirilampos, vigílias, naipes, bigornas, Cartago e Shakespeare. Também são parte da trama esta página, que acaba por não ser um poema, e o sonho que sonhaste ao alvorecer e que já esqueceste. Há um fim na trama? Schopenhauer julgava-a tão insensata como as caras ou os leões que vemos na configuração de uma nuvem. Há um fim da trama? Esse fim não pode ser ético, já que a ética é uma ilusão dos homens, não das inescrutáveis divindades. Talvez o monte de pó não seja menos útil para a trama do que as naus que carregam um império ou que o perfume do dado." -"Os Conjurados" - Jorge Luís Borges

A arte livra-nos ilusoriamente da sordidez de sermos..

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A arte livra-nos ilusoriamente da sordidez de sermos. Enquanto sentimos os males e as injúrias de Hamlet, príncipe da Dinamarca, não sentimos os nossos — vis porque são nossos e vis porque são vis. O amor, o sono, as drogas e intoxicantes, são formas elementares da arte, ou, antes, de produzir o mesmo efeito que ela. Mas amor, sono, e drogas tem cada um a sua desilusão. O amor farta ou desilude. Do sono desperta-se, e, quando se dormiu, não se viveu. As drogas pagam-se com a ruína de aquele mesmo físico que serviram de estimular. Mas na arte não há desilusão porque a ilusão foi admitida desde o princípio. Da arte não há despertar, porque nela não dormimos, embora sonhássemos. Na arte não há tributo ou multa que paguemos por ter gozado dela. O prazer que ela nos oferece, como em certo modo não é nosso, não temos nós que pagá-lo ou que arrepender-nos dele. Por arte entende-se tudo que nos delicia sem que seja nosso — o rasto da passagem, o sorriso dado a outrem, o poen
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"Que boca há de roer o tempo? Que rosto Há de chegar depois do meu? Quantas vezes O tule do meu sopro há de pousar Sobre a brancura fremente do teu dorso? Atravessaremos juntos as grandes espirais A artéria estendida do silêncio, o vão O patamar do tempo? Quantas vezes dirás: vida, vésper, magna-marinha E quantas vezes direi: és meu. E as distendidas Tardes, as largas luas, as madrugadas agônicas Sem poder tocar-te. Quantas vezes, amor Uma nova vertente há de nascer em ti E quantas vezes em mim há de morrer." (Hilda Hilst)

O Jogo da Amarelinha...

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Toco a sua boca, com um dedo toco o contorno da sua boca, vou desenhando essa boca como se estivesse saindo da minha mão, como se pela primeira vez a sua boca se entreabrisse, e basta-me fechar os olhos para desfazer tudo e recomeçar. Faço nascer, de cada vez, a boca que desejo, a boca que a minha mão escolheu e desenha no seu rosto, e que por um acaso que não procuro compreender coincide exatamente com a sua boca, que sorri debaixo daquela que a minha mão desenha em você. Você me olha, de perto me olha, cada vez mais de perto, e então brincamos de cíclope, olhamo-nos cada vez mais de perto e nossos olhos se tornam maiores, se aproximam uns dos outros, sobrepõem-se, e os cíclopes se olham, respirando confundidos, as bocas encontram-se e lutam debilmente, mordendo-se com os lábios, apoiando ligeiramente a língua nos dentes, brincando nas suas cavernas, onde um ar pesado vai e vem com um perfume antigo e um grande silêncio. Então, as minhas mãos procuram afogar-se no seu ca

Saudade(ando)...

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Tua saudade  Que fosse metade minha Que me encontrasse Como as horas encontram o dia ... [T.M.]

Maria Callas a Aristóteles Onassis...

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"Alinhavar as células uma a uma até termos um lençol de uivos caído sobre o ar. Por amor, entregar a voz, o corpo e a alma. Por amor, desmaiar sobre o palco com a depressão a escorrer-nos dos poros. Tecer a pele e de súbito dizer: dobra bem nas pontas a fome - para que se ouça por dentro do gelo a chama desabrigada dos dedos. Por amor, entregar a voz, o corpo e a alma. Desafinar até ao silêncio. Tactear coma ponta dos calos as rugas do tempo e no fim suspirar de alívio. Afinal foi só desmaio. Estamos vivos e insaciáveis como as sombras quando adormecem no colo do sangue. Por amor, entregar a voz. Por amor entregar." -"Dança das Feridas" - Henrique Bento Fialho

Das Descobertas..

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"Entre outras coisas, você vai descobrir que não é a primeira pessoa a ficar confusa e assustada, e até enjoada, pelo comportamento humano. Você não está de maneira nenhuma sozinho nesse terreno..." Livro: O apanhador no campo de centeio - J. D. Salinger
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Matar o sonho é matarmo-nos. É mutilar a nossa alma. O sonho é o que temos de realmente nosso, de impenetravelmente e inexpugnavelmente nosso. O Universo, a Vida – seja isso real ou ilusão – é de todos, todos podem ver o que eu vejo, e possuir o que eu possuo – ou, pelo menos, pode conceber-se vendo-o e possuindo. Mas o que eu sonho ninguém pode ver senão eu, ninguém a não ser eu possuir. E se do mundo exterior o meu vê-lo difere de como outros o vêem, isso vem de que do sonho meu eu ponho em vê-lo, sem querer, do que do sonho meu se cola a meus olhos e ouvidos. – Bernardo Soares

Salve, Fernando Pessoa!

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O coração, se pudesse pensar, pararia. Bernardo Soares

Para lá.

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Para lá de todas as coisas amáveis, para lá de todas as coisas desejáveis, a tua nudez na ponta dos meus dedos, uma bola de fumo pairando sobre o piano e cada poro teu tocado como se fosse uma tecla, uma tecla emitindo o som de cordas surdas, as tuas veias, cada um dos teus nervos, e eu enredado em ti como o insecto na teia da aranha, para lá de todas as coisas definíveis, os contornos do teu corpo à luz de um tecido transparente, beleza incomparável acossada pela fealdade das notas, dos acordes atonais, para lá de ti, para lá de mim, a paixão capturada pelas máquinas fotográficas, projectada numa tela à velocidade iludente do cinema, para lá das salas, para lá da luz, nós os dois denegridos, deitados no quarto escuro da paixão.
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Queria escrever um poema com o teu silêncio, decifrar-te as sensações enquanto te massajo o corpo com óleo de amêndoas doces, escutar os desejos que circulam no teu sangue sempre que das massagens passamos à mordedura, ao beijo, ao corpo comparecendo ao corpo. Nada de segredos sussurados ao ouvido. Queria transformar cada gemido numa palavra, num verso, e aprender a ler nos músculos do teu rosto o prazer com que cada um de nós sente, à sua maneira, a ferida que está na origem da beleza. (H.M.B.F)

Suave..

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Não digas nada! Nem mesmo a verdade Há tanta suavidade em nada se dizer E tudo se entender - Tudo metade De sentir e de ver… Não digas nada Deixa esquecer Talvez que amanhã Em outra paisagem Digas que foi vã Toda essa viagem Até onde quis Ser quem me agrada… Mas ali fui feliz Não digas nada. - Fernando Pessoa