"Então quero que você venha para deitar comigo no meu quarto novo, para ver minha paisagem além da janela, que agora é outra, quero inaugurar meu novo
estar-dentro-de-mim ao teu lado, aqui, sob este teto curvo e quebrado, entre
estas paredes cobertas de guirlandas de rosas desbotadas. Vem para que eu possa acender incenso do nepal, velas da suécia na beirada da janela, fechar charos de haxixe marroquino, abrir armários, mostrar fotografias, contar dos meus
muitos ou poucos passados, futuros, possíveis ou presentes impossíveis. Dos
meus muitos ou nenhuns eus. Vem para que eu possa recuperar sorrisos, pintar
teu olho escuro com kol, salpicar tua cara com purpurina dourada, rezar,
gritar, cantar, fazer qualquer coisa, desde que você venha, para que meu coração
não permaneça esse poço frio sem lua refletida. Porque nada mais sou além de
chamar você agora, porque não tenho medo e não estou sozinho, porque não,
porque sim, vem e me leva outra vez para aquele país distante onde as coisas
eram tão reais e um pouco assustadoras dentro da sua ameaça constante, mas onde existe um verde imaginado, encantado, perdido. Vem, então, e me leva de volta para o lado de lá do oceano de onde viemos os dois.”
-
Caio Fernando Abreu.

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