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Mostrando postagens de agosto, 2013

"Calar é fina forma de amar"

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De todos os sentimentos humanos talvez seja o amor aquele que mais se adorne delicadamente.  Amor tende a botar reparo e engenho em nós. Necessita de limites precisos e só acontece de verdade, quando é naquela perfeita dose. Meio-copo, Dose insuficiente. Amor não é. Em dose demasiada, deixou de ser. Amor transforma qualquer normalidade em desequilíbrio. Tira-nos do eixo, dá nos insônia, faz-nos avesso, incomoda em excesso e ainda assim, sabemos que é esse o lugar certo para se estar. Vez ou outra, o amor caminha pelas ruas dos contrários dentro da gente e exige um espaço ainda-e-sempre vazio,  para que o outro seja refúgio quando necessário for. Porque amor , na dose certa, conhece os lugares exatos onde nossas estruturas trincam, onde nosso céu desaba e faz tudo ruir .  Há ainda , muito amor na contradição. Ela adoça nosso copo com umas pitadinhas de verdade, mostra quem amamos despido, na crua forma de sua natureza humana. Então, do outro,

Let me rain ...

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De tempos em tempos, a fragilidade inunda e a gente deságua violentamente.  Nesses dias a alma parece querer fugir, ir acontecer em outro canto.    Só que alma não sai para fazer visitas, apenas tenta. Cada tentativa de fuga a engasga e acaba por nos deixar às sós  com a nossa solidão.  É exatamente nessas horas que a vontade de quem amamos começa a cortar a carne como navalha. Vontades ardem ...  Há um suplício absoluto e íntimo nesses dias.  Gritamos surdamente pedindo um  colo , um abraço que abrande o caos absurdo de nossas ruas , c lamamos para que alguém seja o   silêncio  capaz de calar o alvoroço que invade nossos ouvidos.   Em meio à tantas surdas vontades,  a inundação continua  e amordaça nossa  alegria.  Nesse afogamento, quem aparece para o milagre da comunhão? Quem estende o braço que nos aporta de forma segura e não nos deixa arrastar pela  correnteza afora? A ausência de quem amamos nos momentos mais precisos torna o tempo mais imprevisível,

Liberdade.

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'Um amigo meu, já morto, dizia que gostava mais de gatos do que de cães porque não há gatos-polícia. Eu gosto de cães, mas julgo que os gatos seduzem os poetas porque os gatos – como a poesia, que é liberdade-livre – são seres livres. A sua domesticidade é aparente, a suficiente para poderem assegurar-se a liberdade. Pode ensinar-se tudo a um gato, menos a não ser um gato. J á viu algum gato deixar-se humilhar a fazer exercícios de circo?' Manuel António Pina

Na Ribalta.

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Há um quê de nostalgia nos olhos do palhaço enquanto percorre todas as idades.  Em que lugar do sonho perdeu seu nariz? Há uma inquietude na alma da bailarina .   Seus passos, tropeço.  O Caminho, só lâmina para aquela que andava sempre nas pontinhas dos pés.    Roubaram-lhe as sapatilhas.  Se não há nariz, o riso do palhaço é navalha.  Bailarina descalça corta o pezinho.   Já não brincavam.  Ele, condoía-se por não mais saber fazer rir. Ela, soube pela primeira vez como é  delicado e cruel ter os pés no chão.  Sangravam.   Sangue no picadeiro.  (...) Gotinhas vermelhas? Seria elas algum indício de seu nariz?   Ruborizou as bochechas, o tom era esperança .    Seguiu  tortos passos. Passos  ou o coração?  Encontro. Das mãos dela,  recebeu sua última gargalhada .  Tão harmonioso foi o riso que  a gravidade parou a ouvi-lo.    Abraçou novamente a alegria. Abraçou a moça.  Pediu-lhe sua última dança .  Tão leve a moça, em sua suavid

Do Cuidado.

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Porque a vontade de um cuidado   seu não cessa... Todos Enquantos - Teatro

Da travessia.

Silêncio corrompido é tremor,  febre na tênue cortina da pele. O  silêncio nos subtrai, pouco a pouco, aponta a fronteira do indizível. Suspende a respiração. Aumenta a sede.  Avança sobre nossas  fotografias  nunca antes reveladas, faz a memória de carrocel . Desconsidera  o tempo que há além-nós. Impiedoso, costura na carne o exato momento. É luz nas horas. De súbito, a vontade se amorna, e  se vê  cores no medo, medo nos olhos . Pela imprecisão dos ponteiros somos envolvidos.A brisa assoprada ao pé do ouvido... A brisa espalhando todo tipo de  vento, toda a fome. Fome anterior e perpétua, oblíqua das horas e das repetições todas.   Arrepio . Nossas esquinas. Becos e vielas. O contraste projetado na pele , fere.. Infinitas trilhas.  tantos caminhos e nenhum. Tantos caminhos e um só. Água esvaindo, invadindo nossas superfícies e poros. Estradas abertas. O dentro e o fora e o não-mais. Apalpamos o silêncio com nossos olhos . Fixamos o abraço . As tréguas? d e lado. O Fôlego? submerso

À Lá Cléo*

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Ser sensível nesse mundo requer muita coragem.Muita. Todo dia. Esse jeito de ouvir além dos olhos, de ver além dos ouvidos, de sentir a textura do sentimento alheio tão clara no próprio coração e tantas vezes até doer ou sorrir junto com toda sinceridade. Essa sensação , de vez em quando , de ser estrangeiro  e não saber falar o idioma local, de ser meio ET, uma espécie de sobrevivente de uma civilização extinta. Essa intensidade toda em tempo de ternura minguada. Esse amor tão vívido  em terra em que a maioria parece se assustar mais com o afeto do que com a indelicadeza.Esse cuidado espontâneo com os outros. Essa vontade tão pura de que ninguém sofra por nada. Esse melindre de ferir por saber, com nitidez, como dói se sentir ferido. Ser sensível nesse mundo requer muita coragem. Muita. Todo dia. Essa saudade , que às vezes faz a alma marejar , de um lugar que não se sabe onde é, mas que existe, claro que existe. Essa possibilidade de se experimentar a dor, quando a d

Du-vi-do !

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Tenho visto ideias muito interessantes que adaptam  sob o jugo da tecnologia e da animação gráfica,  ' obras de arte ' para a sala de aula com vistas à realidade dos alunos  de hoje,  o que sem dúvida, é um prato cheio para dinamizar qualquer aula maçante sobre a história da literatura,  da arte - tão correntes nas nossas escolas :Ensinam tudo, menos a apreciação estética,  a consciência  encantadora  diante de um objeto artístico.  Porém,  essa história de adaptar toda e qualquer linguagem artística aos leitores do novo tempo não interfere na fruição primária,  na magia e no estranhamento que acontece quando  há o contato direto  com um objeto de arte , sem intermédios de  novas e tecnológicas linguagens ?  A contemplação de uma obra-de-arte hoje, não deveria nos tirar do caos contínuo em que nos encontramos e nos lembrar que nosso tempo  está se esvaindo, assim como tudo que transformamos em exibicionismo  mercadológico e fast food?  Não sei, uma coisa é

Capitu [2]

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Em vez de ir ao espelho, que pensais que fez Capitu? Não vos esqueçais que estava sentada de costas para mim. Capitu derreou a cabeça, a tal ponto que me foi preciso acudir com as mãos e ampará-la; o espaldar da cadeira era baixo. Inclinei-me depois sobre ela, rosto a rosto, mas trocados, os olhos de um na linha da boca do outro. Pedi-lhe que levantasse a cabeça, podia ficar tonta, machucar o pescoço. Cheguei a dizer-lhe que estava feia;mas nem esta razão a moveu. - Levanta, Capitu! Não quis, não levantou a cabeça, e ficamos assim a olhar um para o outro, até que ela abrochou os lábios,eu desci os meus , e (...) [Machado de Assis]

25 Coisas sobre Mim.

1. Ainda assisto desenho animado. 2. Minha coleção de canecas falhou. Assim como a coleção de cartões telefônicos, tampinhas, tazos (só para quem nasceu nos anos 90), conchas, selos, adesivos, bolinhas de gude, canetas, cds, revistas. 3. Há quem diga que eu sou chata.Deixo a dúvida no ar. 4. Todos os meus animais de estimação morreram ou sumiram . 5. Sou viciada em séries adolescentes. 6. Tive um amigo imaginário chamado Marcelo. 7. Adoro poesia. 8. Se você é o tipo de pessoa que manda convites para jogos no Facebook, desculpe, mas nunca poderemos ser melhores amigos. 9. Das vontades que nunca irei realizar por falta de coragem estão: pintar o cabelo de vermelho-fogo; fazer uma tatuagem; comer alcachofra. 10. Das vontades que ainda sonho em realizar : Viajar por Sevilha; andar de montanha-russa ; ter filho; ter um jardim de orquídeas; ter uma biblioteca e uma cadeira de balanço; 11. Quebrei a cabeça de um guri com uma pedrada aos 10 anos . 12. Tive a cabeça quebrada por uma pe

Capitu.

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— É pecado sonhar?  — Não, Capitu. Nunca foi.  — Então por que essa divindade nos dá golpes tão fortes de realidade e parte nossos sonhos?  — Divindade não destrói sonhos, Capitu. Somos nós que ficamos esperando, ao invés de fazer acontecer.                                                                                             (Machado de Assis)

Elegia ao primeiro amigo..

Rio de Janeiro Seguramente não sou eu Ou antes: não é o ser que eu sou, sem finalidade e sem história. É antes uma vontade indizível de te falar docemente De te lembrar tanta aventura vivida, tanto meandro de ternura Neste momento de solidão e desmesurado perigo em que me encontro. Talvez seja o menino que um dia escreveu um soneto para o dia de teus anos E te confessava um terrível pudor de amar, e que chorava às escondidas Porque via em muitos dúvidas sobre uma inteligência que ele estimava genial. Seguramente não é a minha forma. A forma que uma tarde, na montanha, entrevi, e que me fez tão tristemente temer minha própria poesia. É apenas um prenúncio do mistério Um suspiro da morte íntima, ainda não desencantada... Vim para ser lembrado Para ser tocado de emoção, para chorar Vim para ouvir o mar contigo Como no tempo em que o sonho da mulher nos alucinava, e nós Encontrávamos força para sorrir à luz fantástica da manhã. Nossos olhos enegreciam lentamente de dor Nossos corpos duros
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                                    Pai,  o que sei é que gostaria de ter dado muitos outros passos contigo. Principalmente os de agora...

Posso escrever os versos mais tristes esta noite.

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Posso escrever os versos mais tristes esta noite. Escrever, por exemplo: “A noite está estrelada e tiritam, azuis, os astros à distância”. O vento desta noite gira no céu e canta. Posso escrever os versos mais tristes esta noite. Eu a quis e por vezes ela também me quis. Em noites como esta apertei-a em meus braços. Beijei-a tantas vezes sob o céu infinito. Ela me quis e às vezes eu também a queria. Como não ter amado seus grandes olhos fixos? Posso escrever os versos mais tristes esta noite. Pensar que não a tenho. Sentir que já a perdi. Ouvir a noite imensa mais profunda sem ela. E cai o verso na alma como o orvalho no trigo. Que importa se não pôde o meu amor guardá-la? A noite está estrelada e ela não está comigo. Isso é tudo. À distância alguém canta. À distância. Minha alma se exaspera por havê-la perdido. Para tê-la mais perto meu olhar a procura. Meu coração procura-a, ela não está comigo. A mesma noite faz brancas as mesmas árvore
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Essa nossa sintonia tem  cheiro de telepatia,  será isto magia?  Não sei! Mas arrepia...  [Vinicius de Moraes]

Da não-vontade

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A sutileza das sensações inúteis, As paixões violentas por coisa nenhuma, Os amores intensos por o suposto em alguém, Essas coisas todas — Essas e o que falta nelas eternamente —; Tudo isso faz um cansaço, Este cansaço, Cansaço.                                              (Álvaro de Campos)

Cansaço meio - amei-o .

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A despeito do que poderia os desavisados pensarem, amor e cansaço não são incompatíveis. As pessoas cansam de amar, cansam mesmo. Quando amar é uma luta inglória, é uma sede saciada a conta-gotas. . [Honoré de Balzac]

Aperto.

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  Sobre nós,  não desate nunca  os nós.